domingo, 2 de maio de 2010

Cuidado ! Candidato não briga com eleitor

Cristian Klein

Candidato não briga com o eleitor, dono do voto indispensável para a sua reeleição para mais quatro anos de boa vida e pouco o que fazer. E reforma política para enxugar Brasília, a cidade construída para a capital perfeita, dimensionada para a população controlada pelo plano diretor, é tema para depois de apurados os votos e conhecidos os eleitos.
Aberto o debate, desde que conquiste a opinião pública, o apoio da mídia e o espaço para as matérias de cada dia para que não escorregue para o esquecimento, a reforma política que o presidente Lula prometeu, mas nada, absolutamente, fez para viabilizá-la, uma vez popularizada, terá o apoio da maioria dos interessados. E ensina a sabedoria do povo que nada cerca fogo de morro acima nem água de morro abaixo.
Brasília está sendo sacrificada pela demagogia, pela corrupção e pede socorro. Depois do governador José Arruda, o da distribuição de pacotes de notas aos cupinchas, mais um mandato do notório Roris, francamente é demais.
Mas, esta é uma campanha atípica, que não segue os modelos clássicos. A começar pela candidata escolhida pelo presidente Lula, o líder mais popular do mundo. E que não se contentou em indicar a candidata sem consultar a sua base política, sequer o seu partido, o PT, que tem engolido sapos e rãs de todos os tamanhos. Driblou a articulação encrencada, com o fato consumado: a ministra Dilma Rousseff é a solução milagrosa, a candidata perfeita porque foi a ministra de Minas e Energia que enfrentou a crise do apagão. E, como dono da candidata, do partido e o presidente com mais de 80% de aprovação nas pesquisas, não devia explicações a ninguém. A conversa com os aliados foi um tom abaixo para não ferir melindres e complicar as coisas.
Nem tudo pode ser perfeito neste vasto mundo sacudido por crises e calamidades de uma fase azarada. A renúncia do deputado Ciro Gomes, um dos líderes do PSB cearense sem papas na língua, da candidatura à Presidência da República criou um clima de constrangimento com a troca de desaforos entre os novos desafetos, no calão de fim de feira, na hora do arremate das xepas.
Lula demonstra as suas apreensões com a ausência para as viagens internacionais de quem conhece o mundo pelo avesso. O que não é de admirar para o presidente que passou cem dias no ano passado atendendo aos convites dos cinco continentes.
Por hora, a ministra Dilma Rousseff demonstra a insegurança e a afobação quando solta na campanha nas ausências do presidente. E certamente exagerou nos retoques de sua imagem, a ponto de criar embaraços aos que demonstram a surpresa pela nova estampa, com a peruca loura como gema de ovo, os óculos substituídos por lentes de contato invisíveis, as blusas e vestidos de cores vivas e nos trinques da moda. A voz empostada com os cuidados do fonoaudiólogo passeia por todos as tonalidades, como de uma declamadora ou, mais exatamente, uma líder de massas.
Não há razão para pânico. Mas, o lançamento da candidatura oposicionista do ex-governador José Serra, do PSDB de São Paulo, e a renúncia de Ciro Gomes definiram a polarização. A candidata Marina Silva, do PSOL, marca a sua liderança como defensora do meio ambiente.
Os senadores e deputados sumiram de Brasília para correr atrás dos votos nas suas bases eleitorais. Lá aparecem, de passagem, para as votações de matérias importantes e a pedido do governo. A campanha murchou neste intervalo inesperado. E as próximas pesquisas sinalizarão as primeiras tendências realmente significativas, com o primeiro flagrante do favorito ou favorita ou da indecisão de grande parte do eleitorado.
A campanha começou, ou está começando. Agora não tem mais recuo.

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